Publicado em 20 de novembro de 2008
"Escuta,
filho, os preceitos do Mestre, e inclina teu o ouvido do teu coração.”
RB-
prólogo
Um dos meus autores preferidos na atualidade tem sido ANSELM GRÜN.
Sempre que vou ao Mosteiro, Ir. Maria Águeda, OSB,
é a encarregada de me "integrar" e o mecanismo da leitura espiritual
me compensa muitíssimo.
Hoje vou colocar, em comum, minhas anotações sobre
a obra do autor acima citado, dentre tantas tão preciosas para mim:" Metade da Vida Como Tarefa Espiritual".
Nesta fase percebo que acontecem mudanças, vem o
abandono da rotina, muitas vezes a separação matrimonial, ocasionais depressões
nervosas, transtornos psicológicos...
Mas é também tempo de crescimento e maturação.
Se fizer um discernimento dos fatos, há como situar-me e
ganhar circunstâncias favoráveis físicas e psíquicas, mesmo quando possa
haver diminuição de forças corporais e, muitas vezes, espirituais também.
A vida por si só requer nesta fase que haja
planejamento de novos desejos em contrapartida com as nostalgias que
se fazem imperativas...
Deus está sempre presente na crise... Disso eu
tenho certeza absoluta.
Vejo que urge um maior empenho na liberação do
autoengano, característica adolescente-juvenil da qual poderei me livrar
definitivamente, com o auxílio da Graça Divina, já que outra época me é
apontada.
Até os quarenta anos outra natureza domina o ser
humano e, por suposto, a mim também.
É neste novo modo de viver que o contato com o meu
íntimo faz abandonar-me, entregar-me nas mãos do meu Criador com
maior ânimo e generosidade.
Tenho tentado combater em mim os zelos sem
irradiação do amor e da bondade de Cristo, o entusiasmo sem pedantismo e
estreiteza. A pequenez interior, a falta de alegria, a autojustificação,
fixação em princípios religiosos para "escamotear" a crise interior,
ocultar a angústia da crise.
Percebo agora que criei imagens de mim e de Deus,
convulsões do coração, princípios ferrenhos e angustiosos (ídolos),
narcisismos...
Aí Deus intervém
favoravelmente me desestabilizando, me tirando toda segurança, toda convicção.
O encontro pessoal com o Senhor fica mais
reluzente, mesmo nesta relação nova com este Deus perigoso, que me mostra a
verdade, os motivos que me desmascara, me fazendo ver meu antigo modo de ver
tão semelhante ao dos fariseus.
Antes, é como se tivesse bebido dos charcos a invés
de inebriar-me da fonte, antes passava sede, não tinha gosto em Deus.
O orgulho, a obstinação, a dureza do julgamento, a
conversa fiada, o ativismo religioso, Deus como um estranho, uma angustiosa
permanência em mim mesma, uma valorização em demasia do meu próprio executar. Agora
vejo, com maior clareza, que não devo confiar demasiadamente na paz, na
renúncia, no domínio sobre mim.
Tudo é Graça!
Sinto ainda que, acima da confiança nos exercícios
e atividades, meu maior desempenho agora é o contato com o fundo de minha alma,
antes uma cisterna seca.
O autoconhecimento é uma exigência desta nova vida
que se descortina.
Se no fundo de minha alma estou fragmentada,
obscurecida, cheia de maldade, com covardia e falsidade, estou deveras
encouraçada. Torno-me uma pessoa grossa, maciça, negra como a pele do
urso, quando me é indicada alguma falta, não ouço, rejeito observação na
minha conduta, porque fica sendo impossível romper tal couraça. Fico, a exemplo
de Sara, petrificada. Fico fraca, censuro o outro, condeno, critico.
O que posso fazer?
Deixar cair a torre da catedral da autocomplacência, autojustificação
com todos os seus andares.
Neste autoconhecimento estou colaborando com a Ação
do Espírito Santo em mim.
Surgem, nesta época, novas possibilidades: o
considerar e o testar, o fazer e o abster-me, os pensamentos favoritos os
desejos, as verdadeiras raízes.
Também há o desapego a papéis, às ocupações ou
ofícios, às posses, às formas piedosas, à vocação de boa cristã, à idolatria...
Parece-me que até agora vivi metade sim, metade
não, ou seja, não por completo.
Foram os reveses da vida, o tédio, o obscuro, o ser
pobre, o ser débil, o orgulho e a mesquinharia, o inconsciente, a preguiça, o
ilógico...
E Deus permitiu
que vivesse eu à duras penas, com ações e omissões, com preguiça, com medo, com
muita covardia, com falsidade até na oração.
Serenidade...
Aparece então a capacidade de me entregar. A
abnegação, o avanço por Deus em mim.
Deixo com gosto o mal, a obstinação, a
arbitrariedade, o bom como inimigo do melhor, a prática das virtudes
inferiores, almejo virtudes mais altas, práticas melhores.
Mas sinto que nada foi inútil. Deus quer de mim o MAGIS para uma
Espiritulidade mais profunda, preciso sair dos monólogos cansativos, saborear o
silêncio e não devorar livros piedosos somente.
O escritor coloca um exemplo que me encantou
muitíssimo: o da serpente que, quando envelhece, fica cheia de rugas e cheira
mal, busca lugar com pedras, desliza, deixa a "pele velha".
Minha natureza, por maior e melhor que seja, ficará
envelhecida e com falhas.
Quando passei por entre as pedras fiz em mim feridas
e erosões.
Decisões me oprimiram, mas as angústias me
amadureceram e me renovaram.
Sinto-me com uma sensação de ter sido raspada em
minha natureza exterior (2 Cor 4,10).
Então constato que a crise não é perigosa, Deus sim
é que fica mais próximo de mim. Agora sei que, se tomo as rédeas da minha
própria crise, impeço a Deus de agir em mim e também a mim de reagir.
O maior temor:
É a excessiva ligeireza para planejar a vida e à
pratica. Desconfio de toda passividade por medo de soltar as rédeas. Apenas suporto a ação de Deus,
passo a passo, à Providência Divina, à entrega do meu coração.
O Nascimento de Deus em mim.
Dentre penúria, apertos, dores do parto, eis
que surge em mim a mulher nova, impotente e fraca, que está disposta a não
ajudar a borboleta a romper tão depressa o casulo. Isto iria ser uma ruína para
meu nascimento em Deus.
Aquela que admite a "crise" e deseja
ouvir o quer ouvir o que Deus quer falar.
Eis uma nova fase: lamentar, não! Dar graças, sim!
Num enfoque psicológico, ( segundo e autor) o
problema da metade da vida é Religião e o ser humano doente? Religião é
Caminho sobretudo para a vida e para a saúde.
No ímpeto da "crise", a mente explora a
"criança amuada" que há em mim e aclara a situação presente, encontro
o Caminho para ajudar aqui e agora. Vão se resolvendo os conflitos neuróticos,
os problemas da impulsividade. Vi-me nesse processo de
individualização, como que num espelho, ficou em evidência a persona, o
rosto, a máscara, tudo que ficou excluído, rejeitado veio à tona. Mas
também assimilei que cada qualidade tem seu oposto.
Há ainda a possibilidade de cultivar a
inteligência, os impulsos infantis de sentimentalismo, vão se amenizando.
Problema da metade da vida frequentes:
.Tenho ainda dificuldade de enfrentar a
relativização da minha própria pessoa.
.Sinto imensa resistência em aceitar minha sombra.
Então, mais uma vez, vem o Auxílio Divino para
minha integração da ânima e do ânimus. Aceito, com confiança, a morte e o
Encontro definitivo com Deus.
Sei que pode brotar em mim a insegurança a perda do
equilíbrio, mas isso também me é útil... Traz contida a humildade que
me capacita a escutar a voz interior, por mãos à obra e desenvolver
a minha personalidade.
Examino meus "altos e baixos" com maior
consciência: ódio x amor, falsidade x verdade, erros x convicções...
Experimento maior consciência social. Descubro
minha inteligência.
Sou capaz de projetar e isso me causa
fascinação, fortes emoções.
Não reprimo o humor, os afetos, as emoções,
não me desculpo como se fosse fraqueza, como querem me incutir.
Pergunto ao meu afeto o que me quer dizer e acolho
com carinho.
Peço constantemente ao Senhor que não me deixe endurecer, não
me permita ser fria, com atitudes estereotipadas, com perda de vivacidade, sem
flexibilidade, enfim que eu viva plenamente a minha humanidade. Que todo cansaço, resignação,
negligência, irresponsabilidade, tendência ao isolamento, seja trabalhado em
mim, que eu me deixe ser modelada por Deus e pelos anjos terrenos que Ele me presenteia sempre,
nos quais encontro refúgio!
Que eu não seja uma múmia espiritual, com
desencontros psicológicos de minha própria natureza!
Enfim que a angústia afaste-se de mim!
Agradeço muito a Deus por fazer parte de
Comunidades lindas, e confessar, determinadamente, a minha agraciada filiação à
Igreja Católica Apostólica Romana, a Igreja do meu Batismo ainda na infância,
mas que nesta idade madura pude revisar, com diligência, e vislumbro
um renascimento espiritual.
Aí vem os grandes desejos, as práticas de
exercícios espirituais... mas começamos a experimentar que não é por esforço
próprio que se alcança o fundo da nossa alma. Esvaziar-se!
Despojar-se!
Desnudar-se!... dos desenganos... das futilidades
das nossas faltas... do sofrimento... dos vazios... da aridez... dos
fechamentos em nós mesmos...
À CRISE!
Como encarar com a mente e o coração abertos?
Exercícios religiososo, meditação, oração pessoal,
oração comunitária, coro, devoções e falta de prazer, vazio, esgotamento,
falta de paz... Experiências de fracassos até mesmo espirituais.
É tempo de recuperar a dracma perdida e
nesta procura, tirar coisa daqui, outra dali... ir remexendo até encontrar.
Objetivo da crise:
Deus quer fazer algo de maior em nós...
A fuga ...
Querer reformar o local em que vivemos, os outros,
mudanças externas ao invés de nos reformar-nos. Nesta ocasião, há uma
possibilidade de entrar em nossa vida o Acompanhante Espiritual. É uma sugestão
muito favorável.
A inibição ...
Aparece fortemente a cavalaria dos princípios para
ocultar a angústia interior que nos atinge de cheio.
Ficam incompatíveis as práticas religiosas, as
orações diárias, se há dentro do nosso ser um endurecimento de coração, falta
de amor, queixa demais, julgamento sobre fraquezas morais ou religiosas,
sentimento de autopiedade ou a soberba.
Examinarmo-nos conscientemente, eis a questão!
Gina escreveu:
ResponderExcluirO auto-conhecimento é a chave para a tentativa de mudar o que não está bom em nós. Desnudar-nos, tentar encarar-nos de frente, como se estivéssemos num espelho. Às vezes, são os outros que fazem esse papel de espelho, mas nem sempre aceitamos o que vem de fora, porque nosso ímpeto pode recusar críticas alheias. Ao contrário, as críticas podem nos fazer crescer, mas precisamos analisar friamente, conscientemente. Todo dia é dia de crescimento e nunca é tarde para tentar corrigir posturas. E com fé em Deus!
"NO FUNDO DE CADA UM DE NÓS EXISTEM MUITO MAIS POSSIBILIDADES DO QUE AQUELAS QUE TIVEMOS OCASIÃO DE EXPLORAR ATÉ O PRESENTE. SE NÃO CRIAMOS O AMBIENTE FAVORÁVEL AO DESENVOLVIMENTO DO NOSSO POTENCIAL, NUNCA SABEREMOS O QUE TEMOS DENTRO DE NÓS."
(MUHAMMAD YUNUS, em "O BANQUEIRO DOS POBRES")