domingo, 23 de agosto de 2009

Metade da Vida Como Tarefa Espiritual


Publicado em 20 de novembro de 2008

"Escuta, filho, os preceitos do Mestre, e inclina teu o ouvido do teu coração.”
RB- prólogo

Um dos meus autores preferidos na atualidade tem sido ANSELM GRÜN.
Sempre que vou ao Mosteiro, Ir. Maria Águeda, OSB, é a encarregada de me "integrar" e o mecanismo da leitura espiritual me compensa muitíssimo.
Hoje vou colocar, em comum, minhas anotações sobre a obra do autor acima citado, dentre tantas tão preciosas para mim:" Metade da Vida Como Tarefa Espiritual".
Nesta fase percebo que acontecem mudanças, vem o abandono da rotina, muitas vezes a separação matrimonial, ocasionais depressões nervosas, transtornos psicológicos...
Mas é também tempo de crescimento e maturação.
Se fizer um discernimento dos fatos, há como situar-me e ganhar circunstâncias favoráveis físicas e psíquicas, mesmo quando possa haver diminuição de forças corporais e, muitas vezes, espirituais também.
A vida por si só requer nesta fase que haja planejamento de novos desejos em contrapartida com as nostalgias que se fazem imperativas...
Deus está sempre presente na crise... Disso eu tenho certeza absoluta.
Vejo que urge um maior empenho na liberação do autoengano, característica adolescente-juvenil da qual poderei me livrar definitivamente, com o auxílio da Graça Divina, já que outra época me é apontada.
Até os quarenta anos outra natureza domina o ser humano e, por suposto, a mim também.
É neste novo modo de viver que o contato com o meu íntimo faz abandonar-me, entregar-me nas mãos do meu Criador com maior ânimo e generosidade.
Tenho tentado combater em mim os zelos sem irradiação do amor e da bondade de Cristo, o entusiasmo sem pedantismo e estreiteza. A pequenez interior, a falta de alegria, a autojustificação, fixação em princípios religiosos para "escamotear" a crise interior, ocultar a angústia da crise.
Percebo agora que criei imagens de mim e de Deus, convulsões do coração, princípios ferrenhos e angustiosos (ídolos), narcisismos... 
Aí Deus intervém favoravelmente me desestabilizando, me tirando toda segurança, toda convicção.
O encontro pessoal com o Senhor fica mais reluzente, mesmo nesta relação nova com este Deus perigoso, que me mostra a verdade, os motivos que me desmascara, me fazendo ver meu antigo modo de ver tão semelhante ao dos fariseus. 
Antes, é como se tivesse bebido dos charcos a invés de inebriar-me da fonte, antes passava sede, não tinha gosto em Deus.
O orgulho, a obstinação, a dureza do julgamento, a conversa fiada, o ativismo religioso, Deus como um estranho, uma angustiosa permanência em mim mesma, uma valorização em demasia do meu próprio executar. Agora vejo, com maior clareza, que não devo confiar demasiadamente na paz, na renúncia, no domínio sobre mim.
Tudo é Graça!
Sinto ainda que, acima da confiança nos exercícios e atividades, meu maior desempenho agora é o contato com o fundo de minha alma, antes uma cisterna seca.
O autoconhecimento é uma exigência desta nova vida que se descortina.
Se no fundo de minha alma estou fragmentada, obscurecida, cheia de maldade, com covardia e falsidade, estou deveras encouraçada. Torno-me uma pessoa grossa, maciça, negra como a pele do urso, quando me é indicada alguma falta, não ouço, rejeito observação na minha conduta, porque fica sendo impossível romper tal couraça. Fico, a exemplo de Sara, petrificada. Fico fraca, censuro o outro, condeno, critico.
O que posso fazer?
Deixar cair a torre da catedral da autocomplacência, autojustificação com todos os seus andares. 
Neste autoconhecimento estou colaborando com a Ação do Espírito Santo em mim.
Surgem, nesta época, novas possibilidades: o considerar e o testar, o fazer e o abster-me, os pensamentos favoritos os desejos, as verdadeiras raízes.
Também há o desapego a papéis, às ocupações ou ofícios, às posses, às formas piedosas, à vocação de boa cristã, à idolatria...
Parece-me que até agora vivi metade sim, metade não, ou seja, não por completo.
Foram os reveses da vida, o tédio, o obscuro, o ser pobre, o ser débil, o orgulho e a mesquinharia, o inconsciente, a preguiça, o ilógico...
E Deus permitiu que vivesse eu à duras penas, com ações e omissões, com preguiça, com medo, com muita covardia, com falsidade até na oração.
Serenidade...
Aparece então a capacidade de me entregar. A abnegação, o avanço por Deus em mim.
Deixo com gosto o mal, a obstinação, a arbitrariedade, o bom como inimigo do melhor, a prática das virtudes inferiores, almejo virtudes mais altas, práticas melhores. 
Mas sinto que nada foi inútil. Deus quer de mim o MAGIS para uma Espiritulidade mais profunda, preciso sair dos monólogos cansativos, saborear o silêncio e não devorar livros piedosos somente.

O escritor coloca um exemplo que me encantou muitíssimo: o da serpente que, quando envelhece, fica cheia de rugas e cheira mal, busca lugar com pedras, desliza, deixa a "pele velha".
Minha natureza, por maior e melhor que seja, ficará envelhecida e com falhas.
Quando passei por entre as pedras fiz em mim feridas e erosões.
Decisões me oprimiram, mas as angústias me amadureceram e me renovaram.
Sinto-me com uma sensação de ter sido raspada em minha natureza exterior (2 Cor 4,10).
Então constato que a crise não é perigosa, Deus sim é que fica mais próximo de mim. Agora sei que, se tomo as rédeas da minha própria crise, impeço a Deus de agir em mim e também a mim de reagir.
O maior temor:
É a excessiva ligeireza para planejar a vida e à pratica. Desconfio de toda passividade por medo de soltar as rédeas. Apenas suporto a ação de Deus, passo a passo, à Providência Divina, à entrega do meu coração.
O Nascimento de Deus em mim.
Dentre penúria, apertos, dores do parto, eis que surge em mim a mulher nova, impotente e fraca, que está disposta a não ajudar a borboleta a romper tão depressa o casulo. Isto iria ser uma ruína para meu nascimento em Deus.
Aquela que admite a "crise" e deseja ouvir o quer ouvir o que Deus quer falar. 
Eis uma nova fase: lamentar, não! Dar graças, sim!
Num enfoque psicológico, ( segundo e autor) o problema da metade da vida é Religião e o ser humano doente? Religião é Caminho sobretudo para a vida e para a saúde.
No ímpeto da "crise", a mente explora a "criança amuada" que há em mim e aclara a situação presente, encontro o Caminho para ajudar aqui e agora. Vão se resolvendo os conflitos neuróticos, os problemas da impulsividade. Vi-me nesse processo de individualização, como que num espelho, ficou em evidência a persona, o rosto, a máscara, tudo que ficou excluído, rejeitado veio à tona. Mas também assimilei que cada qualidade tem seu oposto.
Há ainda a possibilidade de cultivar a inteligência, os impulsos infantis de sentimentalismo, vão se amenizando.

Problema da metade da vida frequentes:
.Tenho ainda dificuldade de enfrentar a relativização da minha própria pessoa.
.Sinto imensa resistência em aceitar minha sombra.
Então, mais uma vez, vem o Auxílio Divino para minha integração da ânima e do ânimus. Aceito, com confiança, a morte e o Encontro definitivo com Deus. 
Sei que pode brotar em mim a insegurança a perda do equilíbrio, mas isso também me é útil... Traz contida a humildade que me capacita a escutar  a voz  interior, por mãos à obra e desenvolver a minha personalidade.
Examino meus "altos e baixos" com maior consciência: ódio x amor, falsidade x verdade, erros x convicções...
Experimento maior consciência social. Descubro minha inteligência.
Sou capaz de projetar e isso me causa fascinação, fortes emoções.
Não reprimo o humor, os afetos, as emoções, não me desculpo como se fosse fraqueza, como querem me incutir.
Pergunto ao meu afeto o que me quer dizer e acolho com carinho.
Peço constantemente ao Senhor que não me deixe endurecer, não me permita ser fria, com atitudes estereotipadas, com perda de vivacidade, sem flexibilidade, enfim que eu viva plenamente a minha humanidade. Que todo cansaço, resignação, negligência, irresponsabilidade, tendência ao isolamento, seja trabalhado em mim, que eu me deixe ser modelada por Deus e pelos anjos terrenos que Ele me presenteia sempre, nos quais encontro refúgio!
Que eu não seja uma múmia espiritual, com desencontros psicológicos de minha própria natureza!

Enfim que a angústia afaste-se de mim!

Agradeço muito a Deus por fazer parte de Comunidades lindas, e confessar, determinadamente, a minha agraciada filiação à Igreja Católica Apostólica Romana, a Igreja do meu Batismo ainda na infância, mas que nesta idade  madura pude revisar, com diligência, e vislumbro um renascimento espiritual.

Aí vem os grandes desejos, as práticas de exercícios espirituais... mas começamos a experimentar que não é por esforço próprio que se alcança o fundo da nossa alma. Esvaziar-se! 

Despojar-se!

Desnudar-se!... dos desenganos... das futilidades das nossas faltas... do sofrimento... dos vazios... da aridez... dos fechamentos em nós mesmos...


À CRISE!

Como encarar com a mente e o coração abertos?
Exercícios religiososo, meditação, oração pessoal, oração comunitária, coro, devoções e falta de prazer, vazio, esgotamento, falta de paz... Experiências de fracassos até mesmo espirituais. 
É tempo de recuperar a dracma perdida  e nesta procura, tirar coisa daqui, outra dali... ir remexendo até encontrar.


Objetivo da crise:
Deus quer fazer algo de maior em nós...

A fuga ...

Querer reformar o local em que vivemos, os outros, mudanças externas ao invés de nos reformar-nos. Nesta ocasião, há uma possibilidade de entrar em nossa vida o Acompanhante Espiritual. É uma sugestão muito favorável.

A inibição ...
Aparece fortemente a cavalaria dos princípios para ocultar a angústia interior que nos atinge de cheio.

Ficam incompatíveis as práticas religiosas, as orações diárias, se há dentro do nosso ser um endurecimento de coração, falta de amor, queixa demais, julgamento sobre fraquezas morais ou religiosas, sentimento de autopiedade ou a soberba.


Examinarmo-nos conscientemente, eis a questão!

Um comentário:

  1. Gina escreveu:
    O auto-conhecimento é a chave para a tentativa de mudar o que não está bom em nós. Desnudar-nos, tentar encarar-nos de frente, como se estivéssemos num espelho. Às vezes, são os outros que fazem esse papel de espelho, mas nem sempre aceitamos o que vem de fora, porque nosso ímpeto pode recusar críticas alheias. Ao contrário, as críticas podem nos fazer crescer, mas precisamos analisar friamente, conscientemente. Todo dia é dia de crescimento e nunca é tarde para tentar corrigir posturas. E com fé em Deus!
    "NO FUNDO DE CADA UM DE NÓS EXISTEM MUITO MAIS POSSIBILIDADES DO QUE AQUELAS QUE TIVEMOS OCASIÃO DE EXPLORAR ATÉ O PRESENTE. SE NÃO CRIAMOS O AMBIENTE FAVORÁVEL AO DESENVOLVIMENTO DO NOSSO POTENCIAL, NUNCA SABEREMOS O QUE TEMOS DENTRO DE NÓS."
    (MUHAMMAD YUNUS, em "O BANQUEIRO DOS POBRES")

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