Do alto da montanha, Kali, a deusa da
mote, ouviu o brado das pessoas e acordou de seu sono.
Levantou-se apressada da cama e correu
para abrir a janela do quarto.
A visão que seus olhos conheceram
amoleceu-lhe o coração.
Empilhada debaixo dele, havia uma
multidão cercada por uma grande avenida de árvores, tão altas que envolviam o
céu.
Animais de todos os tipos abriam caminho,
cautelosamente, detrás do povo.
O cheiro forte de suor e a súplica
estridente e apavorada estava em todos os lugares.
Kali virou-se da janela e chamou seu
criado, o Tempo, com urgência.
Arreie os cavalos e atrele-os à
carruagem, ela pediu.
Então, Kali abriu o baú dos tesouros e
pesou objeto atrás de objeto, de seu interior escuro para o quarto todo, do
chão ao teto, e fez uma pilha alta de presentes, cada um cintilando na
embalagem dourada que o recobria.
Quando o Tempo trouxe a carruagem até a
porta, Kali ordenou que ele a enchesse com os presentes com um único estalido
de chicote, os cavalos correram sob o céu, carregando-os para baixo, aquela
terra e toda sua miséria.
Kali visitou cada casa, cada cidade e
cada aldeia.
Em todas as paradas, ela ordenou que o
Tempo descesse da carruagem com os braços cheios de presentes para todos que
viviam ou cresciam ali.
Avidamente, a embalagem dourada era
rasgada para revelar os presentes trazidos.
Mas não houve respostas entusiasmadas.
O que kali trouxera para o povo, o que
Kali embrulhara como presentes para as pessoas era decadência, bolô, ferrugem,
conchas ressequidas.
Desde então, Kali envia o Tempo na
frente, para avisar que ela está a caminho, para que o Tempo lhes ofereça seu
próprio presente especial, bem como os prepare para o presente de Kali. O Tempo
traz o presente dos cabelos brancos e o embrulho na embalagem dourada da
sabedoria:
Ruga, frieza e velhice.
Pela primeira vez, as folhas mudaram de
cor naquele dia e começaram a cair.
Os caules das plantas ressecaram,
estalaram e voltaram para dentro da terra.
Naquele dia, também, as pessoas
conheceram, por primeira vez, as marcas das rugas em seus rostos, a rigidez dos
membros e das juntas e os olhos que já não enxergavam com tanta clareza.
Também logo descobriram a morte e a dor
da perda, o primeiro entre os animais e depois entre as próprias pessoas.
Os idosos estavam partindo, mudando-se
para abrir espaço para as crianças.
Bela passagem essa! beijos,tudo de bom,chica
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ResponderExcluirOlá Rosélia
Pensamento certíssimo. Envelhecer é o nosso caminho. Difícil é aceitar a velhice. Devemos trabalhar essa realidade durante toda a nossa vida.
Beijos
Maria Luiza (Lulú)
Sabe amiga realmente é duro envelhecer quando se leva em consideração apenas a degradação física , natural e circunstancial. Ela é inevitável , mesmo quando diante de recursos que podem até atenuar a passagem dos anos, entretanto até nesta situação o emocional tem que ser trabalhado. Associar o envelhecer à capacidade de acumular experiências , vivências e saber qual é o lugar de cada um em cada faixa etária poderá servir de consolo e conforto, porisso muito dificil para todos o "saber envelhecer" , na verdade é uma arte, posto que é o próprio viver. Todos temos em cada etapa um momento de angustia durante a "passagem" , negar é não perceber o que gira em volta. bela narrativa.Beijos
ResponderExcluirEnvelhecer, no meu modo de ver a vida, é prêmio, é vitória. Perder o viço da juventude é desagradável, mas para isso tem jeito! Ficar com a saúde comprometida, é dolorido, mas se começarmos a prevenção enquanto jovens, isso tem jeito! É a hora que a gente se aposenta, vive mais leve livre de compromissos rígidos... Eu digo de boca cheia: estou na minha melhor idade! Morrer? Não tem idade para morrer... nossa vida é, do nascimento à velhice, um tênue fio nas mão de Deus! Bjks Tetê - Manancial
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