1. VIAJE LEVE PELA VIDA
Evangelina Himitiam, a biógrafa do papa, diz, com
certo exagero, que tudo o que ele tem na vida cabe numa mala. São discos,
livros, um pôster de seu time do coração – o San Lorenzo, de Buenos Aires – e
um crucifixo que ganhou dos avós. Francisco é desapegado, e isso lhe permite,
nas palavras dela, “viajar leve pela vida”. Anda a pé, pega transporte público
e, quando cardeal, não tinha carro oficial nem motorista. Esse voto de pobreza,
diz o teólogo Altmayer, não é algo triste, pelo contrário. “Quem tem pouco é
mais livre, mais feliz”, diz. Talvez essa fórmula não valha para todos. Mas ela
pode nos ajudar a repensar o materialismo exagerado dos nossos tempos. “O ser
humano está sufocado pelo capital material. As pessoas têm sede do capital
espiritual”, diz Leonardo Boff, teólogo que acaba de lançar pela editora Mar de
Ideais o livro Francisco de Assis e Francisco de Roma. “As mensagens que o papa
passa com suas ações fazem sentido para o espírito”, afirma Boff.
2. DÊ IMPORTÂNCIA AOS VALORES
Em lugar do apego aos bens materiais, o Papa
Francisco tem valores. Desde a infância, sua biografia está repleta de
elementos que demonstram isso. Ele começou a trabalhar aos 12 anos, porque seu
pai considerava o trabalho essencial. Guardou isso com ele. Música e literatura
também são paixões precoces que ele cultiva até hoje, como elemento essencial
da existência. Da ética religiosa dos jesuítas, a ordem religiosa a que Francisco
pertence, extraiu a decisão de levar uma vida modesta, dedicada aos
necessitados. Ele acredita que ajudar os pobres enriquece objetivamente a vida
das pessoas. Nem todos estão dispostos a viver assim, movidos pelo senso de
missão e pela arte, mas o exemplo de Francisco deixa claro que um punhado de
convicções, gostos e atitudes simples podem, muitas vezes, ser mais importantes
que um vasto patrimônio. Ao longo da vida, somos capazes de guardar coisas mais
valiosas que os nossos bens.
3. CULTIVE AS RELAÇÕES PESSOAIS
Perguntaram certa vez ao bispo Jorge Bergoglio,
futuro Papa Francisco, o que ele levaria correndo em caso de incêndio. Sem
hesitar, ele respondeu “a agenda e o breviário”. No breviário, organizava suas
obrigações como sacerdote. A agenda continha seu bem mais precioso, os dados de
centenas de pessoas com quem ele se relacionava, de preferência pessoalmente. A
vida do homem que viria a ser papa é marcada por uma relação intensa e generosa
com todos a seu redor. Isso fez com que ele deixasse marcas na vida de milhares
de pessoas. Quando anunciou que seria padre, aos 19 anos, três amigas choraram,
antecipando sua ausência do bairro e da turma. Uma mãe que perdeu a filha de 24
anos num acidente se lembra do e-mail, totalmente inesperado, que recebeu do
cardeal Bergoglio. Um operário se lembra com orgulho de que ele se sentou a sua
mesa para comer com sua família. Na agenda de Francisco há artistas,
militantes, políticos, sindicalistas e empresários, assim como catadores de
papel e imigrantes ilegais. A mensagem da vida voltada para os outros é que é
possível, talvez necessário, envolver-se com aqueles que estão a nosso redor.
Sair da zona de conforto da família e participar da vida de mais gente – e
convidá-las a fazer parte de nossa vida.
4. FREQUENTE A RUA
Nos primeiros dias depois do conclave, Francisco
afirmou que não deixaria a rua. “Sem isso, viro um rato de sacristia”, afirmou.
A frase reafirma uma prática que ele iniciou ainda antes de se tornar padre.
Seus amigos de adolescência contam que, aos 17 anos, já perambulava pelo bairro
onde morava, visitando áreas mais pobres. “Ele se interessava pelas causas
sociais antes mesmo de se dar conta disso”, diz Pablo Romano, amigo de colégio.
Francisco nunca deixou de andar a pé. “O fato de não usar carro permitia criar
mais laços com a comunidade e enxergar questões que ele de outra forma não
veria”, diz Evangelina. Nas palavras do próprio papa, “andar pela rua e
misturar-se ao povo esclarece e humaniza”. Para as pessoas comuns, o exercício
de caminhar e se misturar amplia o senso de realidade e ajuda a tomar pulso da
cidade e da sociedade em que se vive. Ainda é na rua que a vida pública
acontece, com suas alegrias e contradições. Quem não quer se distanciar da
maioria da sociedade em que vive deveria caminhar pelas ruas com frequência –
ainda que elas não estejam na aprazível Buenos Aires.
5. SEJA COMUM E EXTRAORDINÁRIO
Quem procurar na biografia do Papa Francisco
indícios de um comportamento raro e excepcional não encontrará. Desde muito
jovem, ele sempre esteve inserido nos grupos em que participava como uma pessoa
comum. Jogava bola, dançava, convivia com os amigos. “Ele ia bem na escola, mas
não me lembro dele como um menino extraordinário, e sim como parte da turma”,
afirma Ernesto Lach, um colega de classe. Seu segredo, ao longo de toda a vida,
foi a inserção – na família, na escola, no grupo de amigos, na igreja. “Ele tem
um estilo de liderança discreta”, diz Evangelina. Na verdade, Francisco nunca
teve medo de ser mais um, de misturar-se a seus pares e ao homem das ruas, de
ser mais um entre eles. Em nossa época de individualidade exaltada, em que cada
um é estimulado a ser excepcional, único e insubstituível, é reconfortante
perceber que o homem que chegou ao posto religioso mais importante do mundo
nunca fez questão de parecer diferente daqueles que o cercavam – e nisso,
talvez, resida sua imensa originalidade.
6. CULTIVE A DIFERENÇA
O Papa Francisco foi a principal autoridade da
Igreja Católica a se aproximar de líderes de outras religiões na Argentina.
“Ele se move de forma horizontal, conhece muita gente, está próximo das
pessoas, sejam elas católicas ou não”, diz a biógrafa Evangelina. Evangélica,
ela é amiga e admiradora do papa. A história de Francisco está repleta de
exemplos de abertura ao diálogo com pessoas e instituições com valores
diferentes dos seus. Durante a ditadura argentina, ele convivia com os
diferentes grupos que lutavam pela hegemonia ideológica no interior da Igreja,
assim como dialogava com o governo militar e com as famílias de desaparecidos.
No ano passado, ainda cardeal, acendeu velas durante as festividades de Hanucá,
a festa das luzes judaica. Recentemente, durante a primeira cerimônia de lava-pés
que conduziu como papa, quebrou dois protocolos. Num ritual feito
tradicionalmente entre homens, escolheu banhar os pés de duas mulheres. Uma
delas era muçulmana. A atitude provocou debate. O papa não se explicou. Em seu
sermão, ressaltou a importância de servir e ajudar, seja quem for. “Foi um
aceno claro de sua disposição em dialogar e fazer alianças”, diz Leonardo Boff.
A lição para os leigos é óbvia: quem sabe ouvir ganha respeito. Pessoas que
pensam diferente de nós não são necessariamente adversárias ou inimigas. Suas
opiniões e experiências não deveriam apenas ser toleradas, mas contempladas com
atenção e respeitadas. Ideias diferentes das nossas nos enriquecem.
7. VALORIZE A FAMÍLIA
Primeiro de cinco filhos, Francisco foi criado com austeridade. O pai, imigrante italiano, era contador, exigente com escola e trabalho. A mãe, também italiana, cultivava o espírito de colaboração entre os irmãos. Incentivava a apreciação de música e literatura. “Ouvíamos com minha mãe, nos sábados às 2 da tarde, as óperas da Rádio del Estado. Estar com minha mãe e meus três irmãos mais velhos desfrutando a arte era uma beleza”, disse. O pequeno Jorge passava muito tempo na casa da avó, de quem assimilou a religiosidade e o dialeto da região do Piemonte, na Itália. Pouco antes de ser eleito papa, deu uma entrevista, e nela afirmou que essa avó, Rosa Maria Vasallo, era a pessoa que mais influenciara sua vida. Quando ele contou a ela que iria para o seminário, a avó respondeu: “Vá, mas se não for feliz saiba que a porta aqui está aberta”. Hoje em dia, quando o convívio familiar reduz a poucas e atribuladas horas, e as crianças muitas vezes mal conhecem seus avós, talvez faça sentido lembrar que o papa descobriu sua vocação e construiu sua personalidade à sombra de uma família ampla e presente, embora pobre.
8. NÃO TENHA VERGONHA DE SER HUMILDE
Assim que se instalou em Roma como papa, o ex-cardeal Bergoglio disparou uma série de telefonemas para Buenos Aires. Falou com o jornaleiro, o dentista e os funcionários da igreja. Quando gaguejavam sem saber como tratá-lo, respondia: “Me chame de Jorge, como sempre”. Fez o mesmo na Cúria Romana. Em vez de Sua Santidade, pediu para ser tratado como bispo de Roma. Isso poderia ser apenas questão de palavras. Não é. O papa Francisco parece ser mesmo um homem simples, que faz questão de evitar que as posições cada vez mais importantes que assumiu mexessem com seus hábitos e com sua cabeça. Isso criou uma enorme simpatia e boa vontade em torno dele. As pessoas admiram com razão gente importante que não se dá ares de grandeza e se relaciona normalmente com os demais. Isso, isoladamente, não explica a carreira bem sucedida de Bergoglio ou seu sucesso como papa, mas certamente é parte importante da explicação.
9. RECONHEÇA SEUS DEFEITOS
Semanas atrás, durante uma missa na Praça de São Pedro, Francisco fez um comentário surpreendente: “Todo mundo peca, inclusive o papa – e muito”. Se o conceito de pecado hoje em dia está fora de moda, a ideia de erro pessoal persiste. Temos dificuldades em admiti-los, para nós mesmos e para os outros. Ao falar publicamente de suas fraquezas, o papa nos sugere que sejamos mais honestos e mais compreensivos, com nós mesmos e com os outros.
10. CUIDE DE SEUS AMIGOS
“Quando éramos crianças, Jorge nunca foi o líder do grupo. Mas sempre teve muitos amigos”, diz sua irmã Maria Helena. O papa Francisco manteve o hábito de infância na vida adulta. Para amigos próximos, telefona com frequência religiosa. Com outros, mantém contatos ao menos anuais, ou em época de campeonato de futebol. “A amizade é uma grande dádiva de Deus”, disse ele, em carta a jovens de um seminário argentino. “Com ela, podemos conhecer o amor da diferença, sem barreiras, da ternura permanente. Deus não é mesmo maravilhoso?” Para o papa Francisco, a amizade é uma relação transformadora, de profundo engajamento, que requer atenção e doação. Em tempos de enorme trivialidade, como o nosso, essa é uma lição transformadora. Amizade não é apenas uma forma de entretenimento. Amigo não é apenas quem ri com você, mas quem conhece suas fraquezas, divide suas dúvidas e partilha suas dificuldades.
"A cada dia de nossa vida, aprendemos com nossos erros ou nossas vitórias, o importante é saber que todos os dias vivemos algo novo. Que o novo ano que se inicia, possamos viver intensamente cada momento com muita paz e esperança, pois a vida é uma dádiva e cada instante é uma benção de Deus."
ResponderExcluirUm ano novo repleto de paz, alegrias e muitas bençãos, e de novo recomeços!
Feliz ano novo!
São os meus sinceros desejos
Leandro Ruiz
2013/2014
Passando para lhe desejar um feliz ano novo, claro que com tudo que há de melhor e o mais principal é que a esperança de um ano bem melhor esteja por vir, acredito que no próximo ano estejamos aqui e que o tempo seja nosso amigo.
ResponderExcluirObrigada por sua linda companhia.
Muito carinho, beijinhos.
Rosélio, penso que o diferencial em papa Francisco que vem conquistando fiéis é justamente essa tendência a valorizar o simples e espalhar sementes sobre o que realmente importa. que essas sementes encontrem solo fértil em 2014, que seja um ano com menos falsidade e opressão, mais amor, cooperação e generosidade. Um abraço, tudo de bom!
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