Tempestade da Alma

"Cansada de sofrer, de mendigar, de esperar, quero janelas abertas, quero sentir vento no rosto, sorriso, alegria.

Não essa tristeza contida presa me entupindo as veias, me arrolhando a garganta, amarga na boca, nó de marinheiro que não desata nunca."

"Ela vem de mansinho,  sem pedir licença, ora vem como um turbilhão, feroz, bravia como o mar em ressaca, marca território, condensa desesperança, ata, como em nós, toda desilusão, tem o nome amargo de tempestade.

Ele é devorador de sonhos, de pureza de espírito, de ternura do viver, de desejos irrealizáveis, não cabíveis, de suicídios da pobre alma.

Destemida que só, pensa em acabar com a vida espiritual inabalável, crê-se poderosa a ponto de lutar contra Deus em toda sua plenitude.

Absorve energias, varre idealizações, propagandeia divisões e faz intrigas, semeia discórdia na alma dos indefesos e puros de espírito.

Dista da felicidade, da paz, da serenidade do ser em busca de sossego e bem-estar comum.

É perversa na sua expressão, tenta  minar forças e abalar estruturas fortalecidas no Senhor do Universo.

Pobre coitada! Demora, mas não tarda a sumir do coração discreto que lida com altos e baixos confiando plenamente em Deus, o inabalável.

Erradicar o bem é seu objetivo na face da Terra, mas nos previne da soberba, da arrogância, enche-nos de humildade preventiva e sadia da convicção de  que somos apenas pó.

Gostam dela os corações orgulhosos e sedentos de inveja e maledicência, os que tramam o mal sorrateiramente, pensando que nunca serão percebidos.

Ah! Tempestade de alma, maldita seja sobre os confins do Universo,  arreda-te dos filhos muito amados de Deus."

 E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. 

Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. 

Mas uma coisa é certa:

Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. 

Só assim as tempestades fazem sentido.”

(Haruki Murakami)