Era chegado o tempo divino natalício, Leonor amava ajeitar a árvore cheia de presentes, de papéis coloridos, com laçarotes de fita, cordões dourados, tudo preparado numa beleza sem par.
Ela tinha uma alma pura, lhe encantavam as lembranças do Natal da sua infância numa casa grande, onde sua avó, ainda viva, era o alvo da visitação de seus filhos e netos, tios e primos de Leonor. Saboreava tal festa com grande expectativa. Os presentinhos na árvore, antes, no sapatinho na janela. O pratinho feito para o bom velhinho que viria deixar o mimo. Nunca se esquecia do manjar com ameixa que o entregador de presentes gostava e se lambuzada, deixando o caroço da ameixa como vestígio da sua passagem naquela cada na região rural.
Não se tinha a devoção ao Menino Deus a não ser muito mais tarde quando ela foi estudar no colégio de freiras da região.
Dar ou receber presentes não era o objetivo para ela. Ela tencionava ser o próprio presente aos seus amados familiares.
Perpetuava, assim, as alegrias de Natais de outrora onde era tão feliz com a espera mágica do Papai Noel em quem acreditava piamente.
Na ocasião da grande festa católica, o coração das pessoas se expandia, ficava cheio de amor para com os menos favorecidos.
Realmente o Menino Deus continuava a fazer milagres até os dias atuais. O mundo se tornava mágico. As pessoas se revestiam de magia. O coração se enchia de amor.
Leonor se deixava envolver pela temporada de Paz e alegria da época tão rica, linda e abençoada. Alegrava-se com os momentos felizes que iria viver estando ao lado dos seus amados familiares.
As pessoas deixavam cair o invólucro em que se colocavam para sobrevivência num mundo duro, cheio de hipocrisia por todos os lados. O consumismo comum na modernidade seria colocado de lado por muitos para serem solidários aos semelhantes. Ao menos uma vez ao ano, o mundo se revestia de fraternidade bonita que lhe agradava tanto.
O mundo parecia esbanjar amor fraterno. O transbordamento do amor era notório na época.
É Natal sim, tinha que ser Natal. Só podia. O mundo se confraternizando e se amando? Não tinha dúvidas, Leonor percebia que o Natal se avizinhava surpreendentemente.
Quando ela olhava o calendário e entrava a um mês do Natal, tudo ia se transformando dentro dela aos pouquinhos. Enchia-se de coragem de tentar chamar às pessoas à convivência mais íntima e solidária em todos os níveis.
Já foi vovó Noel no tempo em que curtia seus netinhos pequenos que já eram rapazes na atualidade.
Hoje, seu Natal é bem diferente. Como Maria, a Mãe do Deus menino, permanecia em silêncio se amofinada, perdoava os insensíveis. Se fosse ofendida, evitava ofender. Aprendera tanto nas últimas décadas onde seus cabelos se tingiam, pouco a pouco, de prata fina numa mescla luminosa dando-lhe maturidade, mas que não impediam das lágrimas rolarem em sua face. Elas eram teimosas e ninguém as impediam tal abuso da invasão em seu rosto.
O pensamento estava racional ainda e lhe trazia à memória tudo que havia feito em prol dos que tinha amado e se foram sem piedade lhe deixando consumida nas lembranças e saudades pungentes e dilacerantes.
Natal, Leonor já aprendera há anos que só acontece quando concebido internamente.
Independente de indiferenças de quem já nos doamos por inteiro, da negra sensação de não sermos mais vistos, ouvidos, de nos isolarem como uma ilha inabitável, o bom de tudo é que é Natal lá fora e precisa ser dentro de nós.
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